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O MODELO ASSOCIATIVO/ COOPERATIVO DO PROJETO RECA EM UMA

PERSPECTICA ECONÔMICA, SOCIAL E AMBIENTAL

Este trabalho traz uma análise sobre o cooperativismo, como forma de sobrevivência 
e organização social de indivíduos de uma determinada região, com ênfase para o 
sistema associativo/cooperativo do Projeto RECA- Reflorestamento Econômico 
Consorciado e Adensado, que tem fundamental importância na economia da região 
de Nova Califórnia-RO. O objetivo desse trabalho é expor o processo formador e as 
condições que propiciaram a criação da Associação dos Pequenos Agrossilvicultores 
do Projeto Reca e a sua relação com o contexto histórico regional e nacional em uma 
época de intensos conflitos sociais e de grande interesse do governo brasileiro pela 
Amazônia. O autor procura mostrar o viés econômico escolhido pelos produtores, que 
respeitando as características geográficas locais, aliam o desenvolvimento econômico 
às formas sustentáveis de explorar o espaço natural, expondo, através desse estudo, 
que é possível manter a sobrevivência no campo ao passo que gera renda com 
práticas sustentáveis. Através das vindouras discussões, mostra-se que é possível a 
busca pelo equilíbrio ambiental com o uso racional dos recursos naturais, visto que as 
principais fontes de recursos vêm através dessa relação. Todas as parcerias e 
investimentos advêm de projetos, que incentivam a recuperação de áreas 
degradadas. Portanto, este trabalho ambiciona suscitar uma discussão acerca da 
relação harmoniosa entre uso do espaço natural e a preservação da biodiversidade, 
muitas vezes, colocada em posições antagônicas e inconciliáveis.

Palavras- chave: RECA. Cooperativismo. Economia. Biodiversidade.

O presente artigo aborda o estudo do cooperativismo, como forma de

organização e sobrevivência de povos de determinadas regiões, trazendo à discussão

aspectos econômicos, sociais e ambientais, que abarcam as mudanças engendradas

nos modos de vida e na percepção da realidade desses indivíduos, provocadas pelas

drásticas alterações geográficas, climáticas e culturais sofridas nos processos

migratórios e na sujeição de uma nova realidade diferente das suas.

O objeto de estudo é o Projeto RECA (Reflorestamento Econômico

Consorciado e Adensado), fundado oficialmente em 1989, com status de associação,

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através de esforços conjuntos de populações locais e diversos migrantes de várias

regiões do país. Está localizado na divisa entre Rondônia, Acre, Amazonas e Bolívia.

Fica a 360 km de Porto Velho, capital de Rondônia, e a 150 km de Rio Branco, capital

A criação de formas coletivas de sobrevivência é uma resposta à

necessidade de se buscar soluções para enfrentar as dificuldades impostas pelo meio

em que se organizam. A particularidade do RECA é que além de se criar alternativas

para desenvolver um modelo econômico viável, traz nesse escopo, o respeito ao

espaço natural, contribuindo com a preservação da biodiversidade das espécies, ao

passo que presta serviços a seus associados e gera emprego e renda à comunidade

local, pautado pelo desenvolvimento sustentável.

O autor procura demonstrar que populações rurais de diferentes regiões

podem se organizar para trabalhar possibilidades conjuntas de buscar o

desenvolvimento econômico à medida que cuidam e preservam a natureza. Busca-se

mostrar que é possível haver o equilíbrio entre uso da terra para fins econômicos e a

preservação do meio ambiente, através de um modelo cooperativo consciente. Que

esta produção acadêmica sirva de inspiração para comunidades que objetivam reduzir

os impactos ambientais causados pela ação do homem na natureza de forma

Para atender ao escopo central do presente estudo, foi realizado um estudo

de caso do processo formador do Projeto RECA e seus aspectos sociais, econômicos

e ambientais para a região. Foi feita uma revisão bibliográfica e através desta, foi feita

uma pesquisa de análise qualitativa, na qual o autor traz sua interpretação acerca do

revisionismo literário suscitado e os apontamentos de ordem pessoal, a partir das

O estudo de caso apresenta a agrossilvicultura desenvolvida através da

agricultura familiar, norteada pela atividade cooperativa associativa, que fornece as

condições essenciais para o desenvolvimento econômico de seus membros, posto

que uma das premissas básicas do projeto é a recuperação de áreas degradadas,

com a utilização dos Sistemas Agroflorestais- SAFs.

Através do estudo de caso apresentado, o autor pretende, também,

contribuir com as discussões acadêmicas e científicas acerca de experiências

exitosas de cooperativas agrícolas que demonstram que é possível fazer o uso

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racional dos recursos naturais, de forma que a sobrevivência do homem no campo

contribua para a manutenção do equilíbrio ecológico.

A palavra cooperar tem sua origem do latim coperari, que significa trabalhar

junto. “Cooperar, portanto, não é um termo novo. Cooperar é colaborar, é obrar

simultaneamente para o bem público, é cooperar em trabalhos de equipe.” (Novo

Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa – 2ª Edição).

O surgimento de cooperativas está intimamente ligado à forma de organização e a 
ocupação do homem na terra e sua relação com os demais indivíduos, na busca pela 
resolução de problemas sociais, econômicos, políticos. Ainda que inicialmente 
primitivas, elas foram se aperfeiçoando ao longo dos tempos e se adaptando aos 
desafios impostos em diferentes momentos da história, nos mais diversos ramos de 
atividades. Benato diz que

A cooperação sempre existiu nas sociedades humanas desde as eras mais 
remotas. Menos evoluído, menos agressivo, mas sempre presente como a 
resultante de necessidades imperiosas de sobrevivência. 
Cooperação, como necessidade, como meio de sobrevivência e, 
principalmente, como agrupamento de pessoas que na reciprocidade de seu 
trabalho, no conjunto de suas idéias [sic] e no esforço continuado de suas 
ações, realizavam seus propósitos e seus objetivos. (BENATO, 1996, p. 20).

Todo o processo inconsciente de formas de organização coletiva,

pautado em necessidades similares, é parte da natureza do ser humano, enquanto

sujeito social. No entanto, como modelo organizativo e sabedor de seu papel perante

o mundo capitalista, “a doutrina cooperativista surgiu no século XIX como resultado

de um processo através do qual se procurava atenuar ou suprimir os desequilíbrios

econômicos e sociais oriundos da Revolução Industrial. (Farias, 2013, p. 17).

Sobre o início da cooperativa no Brasil, muda-se o evento causador, mas a

resistência organizada em função das dificuldades impostas norteia as ações coletivas

na busca pela superação de obstáculos, que individualmente seria muito difícil

No Brasil, a forma de organização cooperativista estruturou-se a partir da 
chegada dos imigrantes europeus, principalmente no período entre 1824 e 
1920, porque, ao chegarem, enfrentaram muitas dificuldades – de todas as 
ordens – e encontraram na cooperação e na solidariedade a possibilidade de 
desenvolverem suas atividades. (Fernandes, 2017. p. 142 e 143).

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É necessário compreender a diferença entre associação e cooperativa.

Apesar de parecidas, a cooperativa tem caráter empresarial, como demonstra Farias,

A finalidade principal de uma associação é complementar a atuação do 
Estado nas áreas de assistência, promoção social e na defesa de interesses 
de classes. Diferentemente das cooperativas, as demais associações não 
têm permissão para desempenhar atividades que tenham como objetivo 
principal a comercialização e são classificadas como assistenciais, 
recreativas, culturais, religiosas, científicas, beneficentes e de representação 
política. (Farias, 2013, p. 20).

Sobre o associativismo, Farias constata que

Podemos definir o associativismo como uma prática social fundamentada na 
criação de associações, que são organizações autônomas e gerenciadas 
democraticamente, resultantes da união legal de duas ou mais pessoas para 
a realização de um objetivo comum. (Farias, 2013, p. 17)

O paralelo acima, é importante no caso RECA porque inicialmente foi

fundada a associação dos Pequenos Agrossilvicultores do Projeto Reca, que a época

reunia as condições necessárias para o desenvolvimento de suas atividades e os fins

a que se destinava, de acordo com as legislações vigentes. Porém, atendendo as

mudanças de horizontes em relação a atividade proposta e a relação com o mercado,

criou-se a Cooperativa RECA, em 2006, como demonstra Justen

[..] com a implementação do projeto e a prosperidade nos

resultados, em assembleia foi decidido por comercializar a produção, o que,

na época, não era permitido para associações de caráter não lucrativo.

Assim, para atender a dispositivos legais foi fundada, no ano de 2006, a

Cooperativa Agroflorestal do Projeto Reca – Cooper Reca, com estatuto

próprio para comercializar os produtos desenvolvidos pelos associados. No

entanto, com a implantação da cooperativa, a associação foi mantida com

sua estrutura e caráter jurídico inicial, possibilitando uma forma hibrida de

organização no projeto RECA, com duas organizações, sendo uma

associação e uma cooperativa, as quais respectivamente ocupam-se de

questões sociais e comerciais no sistema produtivo estudado. (JUSTEN,

É importante destacar que com a criação da cooperativa, houve divisão de

tarefas 
das 
duas 
personalidades 
jurídicas 
e 
a 
complementariedade 
de

responsabilidades, que fortalecem o sistema produtivo e associativo, como um todo.

Com a alteração na legislação e a impossibilidade de associações ter fins econômicos,

em 2006, criou-se a cooperativa, que a partir de então, ficou responsável pelo

beneficiamento da produção, agregação de valor e a comercialização dos produtos

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de forma direta, pois antes era feita pelos produtores. Já a associação continuou

responsável pela capacitação de projetos sociais, que beneficiam diretamente os seus

[...] não foi identificado conflito entre a associação e a cooperativa, pois os 
produtores são associados das duas organizações. Para que isso fosse 
possível, definiu-se, dentro da legalidade e por consenso entre os 
associados, que a associação continuaria responsável pelas atividades do 
Projeto, como já vinha fazendo, bem como pelas responsabilidades sociais. 
Já, a cooperativa ficaria responsável pelos fins comerciais e abertura de 
novos mercados para os produtos do Reca. (JUSTEN, 2014, P. 10).

A respeito do processo organizativo, Justen acrescenta que

As duas organizações atuam junto, sendo que a cooperativa vende os 
produtos e, após o abatimento dos custos incorridos, repassa as sobras para 
a associação que remunera os associados de acordo com a sua produção 
entregue ao Reca. A gestão do Projeto mantém suas tradições, sendo de 
forma aberta e participativa, desde o seu início até a atualidade. (JUSTEN, 
2014, P. 10).

A partir da década de 1960, com o objetivo de desenvolver o capitalismo

na Amazônia, o governo brasileiro sob o regime militar, tinha o objetivo de promover

a ocupação da região e expandir a agropecuária em detrimento do extrativismo da

borracha, há muito tempo em declínio, com isso, fomentou diversas campanhas nas

demais regiões do país para promover a ocupação da Amazônia. Foram criados os

Planos de Desenvolvimento da Amazônia-PDAs para proporcionar a difusão de um

novo modelo econômico, que atendesse os anseios do sistema a qual o Brasil se

propunha a desenvolver. Fialho corrobora, observando que

Com a Ditadura Militar a partir de 1964, impõe-se um projeto político que 
seguiria o caminho de consolidação do território capitalista para o resto do 
país, vestido de um patriotismo notável em cada uma das empreitadas que 
esses governos lançavam. Sendo o desenvolvimentismo a continuidade da 
ideia de progresso, era importante repassar a percepção de uma unidade 
nacional, de um “Brasil potência”, para justificar o domínio de seu vasto 
território de forma racional e autoritária. (FIALHO, 2019, p. 3)

Quando da vinda de famílias do sul, centro-oeste e nordeste do país para

região, a partir da década de 1970, era oferecida pouca estrutura e condições

precárias para a ocupação das terras locais. O Incra (Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária) demarcava a terra e não oferecia apoio técnico

suficiente, deixando as famílias em condições de total abandono. O objetivo do

governo era pressionar essas populações para promover derrubadas, e ao Incra

coube esse papel, visto que era o órgão responsável por nortear os processos de

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ocupações nas diferentes regiões da Amazônia e orientar a política agrária a ser

adotada. O que não se viu, como citado acima.

É importante observar que a partir da década de 1970, os interesses

nacionais e internacionais são direcionados para a região amazônica, tendo em vista

o discurso do vazio demográfico alardeado pelo governo brasileiro, em função do

declínio da borracha e da venda e abandono de muitas das terras pelos grandes

seringalistas. Com uma visão desenvolvimentista, apoiada pelo capital internacional,

o governo federal negligenciou as questões ambientais em face da integração

econômica e social da região ao restante do país, através da pecuária, tendo em vista

que “todo o gado de corte das antigas regiões produtoras como a região sul, o oeste

paulista e a região centro-oeste brasileira, passa a ser criado no Norte, devastando

áreas cada vez maiores de Floresta Amazônica.” (ÂNGELO, 2014, p. 30).

Antes de entender o processo de criação do Projeto RECA, faz- se

necessário compreender as razões que trouxeram diversos migrantes à região e o

sofrimento experimentado em uma realidade da qual era desconhecida para muitos.

A fome e a malária castigavam e lhes obrigaram a buscar alternativas viáveis para

manter a sobrevivência. É importante ressalvar que a gênese de todo sofrimento não

está no momento da colonização, mas nos processos que desencadearam essas

mudanças. Os sulistas foram expulsos de sua região pela expansão da fronteira

agrícola e a consequente mecanização da atividade agrícola, com a plantação da soja

e trigo; os seringueiros, pelo declínio do látex, impulsionado pela mudança de política

econômica do governo nacional. Mesmo diante de todas as intempéries vivenciadas,

Nesse momento, em que todos os determinantes estruturais poderiam fazê-
los sucumbir, a força social se mostrou realmente um fator transformador da 
realidade dada, algo impensado teoricamente, esculpido no dia a dia de 
resistência e luta e, fundamentalmente, da unidade composta pelos sulistas 
e exseringueiros, com ajuda da CPT e CEBs. Uma força erguida como brado 
frente às agruras e tristezas, cujas vozes eram seculares e ancestrais, 
composta por duas subjetividades distintas: a do ex-seringueiro apurada e 
rica na relação com a floresta, e a do sulista hábil nos arranjos políticos e 
anseios de crescimento econômico[...]. (ÂNGELO, 2014, p. 31).

Nesse contexto de dificuldades, e buscando formas de sobrevivência,

frente ao completo abandono governamental, os novos colonos juntaram-se aos

remanescentes seringueiros, ribeirinhos e antigos povos da região, organizaram e

desenvolveram formas coletivas de enfretamento aos problemas existentes e aos

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poucos, o espírito associativo foi se moldando. Sobre as dificuldades enfrentadas,

Sem disporem de recursos acumulados, muito distantes dos grandes centros 
urbanos (Porto Velho e Rio Branco) – como é o caso das referidas famílias, 
esquecidos tanto pelo governo do Acre como o de Rondônia e por fim, pelo 
próprio INCRA, esses camponeses optaram por produzir os gêneros que já 
conheciam anteriormente: arroz, feijão e café. Contudo, como o clima da 
Amazônia – muito calor, alta incidência de luz, umidade excessiva e solo 
precário – não era favorável, tais gêneros foram um fracasso e todo o roçado 
se transformou em desmatamento da Floresta Amazônica. Assim, viveram 
quase 10 anos de precariedade e difíceis condições de sobrevivência. Foi 
somente com a ajuda das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Comissão 
Pastoral da Terra (CPT), em específico o bispo Dom Moacyr, e dialogando 
com as comunidades locais da floresta (caboclos, índios e populações 
ribeirinhas) que tiveram a ideia de modificar a produção, optando pelos 
sistemas agroflorestais em conjunto com o sistema associativista comum no 
sul. (ÂNGELO, 2014, p. 18 e 19).

Como o modelo inicial empregado não correspondeu à realidade climática

da região, o amadurecimento de formas de atuação coletiva impulsionou a criação de

um projeto, pautado em objetivos comuns e desafios similares, na busca de um

modelo econômico que lhes garantisse, inicialmente, o sustento e o uso racional da

terra. A convergência de ideias se materializou com a fundação da Associação dos

Pequenos Agrossilvicultores do Projeto Reca do Projeto Reca, em 1989, que é

referenciado como experiência bem-sucedida, como assevera Becker,

[...] A experiência de pequenos produtores melhor sucedida é o Projeto 
Reflorestamento Econômico Consorciado Adensado (RECA), localizado na 
fronteira entre o Acre e Rondônia. Basea-se no manejo os recursos naturais, 
através do reflorestamento consorciado com as espécies nativas e não 
nativas, e no beneficiamento do cupuaçú e da pupunha, exportados para o 
mercado interno. Tratam-se de seringueiros e antigos colonos do sul do país, 
com experiência agrícola, inclusive como colonos do Incra em Rondônia. 
Uma igreja francesa provê assistência financeira e técnica. A organização 
social e política é totalmente diversa das Resex: os produtores têm a 
propriedade da terra, estão organizados em cooperativa, distribuindo-se em 
grupos de lotes com representação na administração central, e regras rígidas 
definem as condições de entrada e saída da cooperativa. (BECKER, 2001, 
pág. 147).

É importante observar que o espaço geográfico que compreende a região

em que o RECA está inserido tem como principais atividades econômicas a pecuária

de corte e o setor madeireiro, que trazem uma grande degradação para o meio

ambiente, visto que a essência dessas atividades gera um enorme desequilíbrio

ecológico, com os grandes desmatamentos. Com isso, não se pode compreender o

processo de formação da associação sem antes contextualizar temporal e

economicamente o que estava acontecendo no norte do país.

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A formação do projeto está alicerçada na relação harmoniosa homem-

natureza, em um contexto extremamente conflituoso, observado a partir da década de

1970. De um lado havia a preocupação pela preservação dos modos de vida e o direito

à terra pelos seringueiros e ribeirinhos; de outro, o interesse do grande capital

internacional em promover o desenvolvimento e integração da Amazônia, através da

agropecuária. Essa dicotomia causou intensas agitações no campo e a expulsão de

muitas dessas populações tradicionais de suas terras.

A difusão da agropecuária em toda a região amazônica, com amplo apoio

dos governos estaduais e federal, promoveu um esgarçamento das antigas relações

econômicas no interior dos seringais, possibilitando o surgimento de um novo conceito

de luta, a partir de 1985, com a criação das reservas extrativistas, que “traz práticas

altamente  criativas  no inter-relacionamento  do homem com a floresta,

exemplificando um pluralismo necessário  dos  modelos  de  desenvolvimento agrário

e  agrícola da  sociedade  brasileira”. (SANTOS, 1993, p. 83).  O ápice dessa luta foi

o assassinato do sindicalista acreano Chico Mendes, em 1988, que era considerado

um grande entrave à exploração da região, por seu perfil de liderança e sua voz cada

vez mais importante na defesa desses grupos marginalizados. Santos (1993), aponta

as diversas formas de resistência promovidas pelas populações tradicionais de toda

No espaço social da Amazônia Ocidental, marcado por conflitos agrários, 
sucederam-se   formas   de organização   para incentivar e sustentar a 
resistência e o direito à vida:  desde o   I o Congresso Nacional dos 
Seringueiro e a constituição do Conselho Nacional dos Seringueiros, em 
1985, ao I o Encontro dos Povos da Floresta e o I o Encontro dos Povos 
Indígenas do Xingu, em Altamira, em 1989, até a recente mobilização pela 
"Sobrevivência na Transamazônica". (SANTOS, 1993, p. 82 e 83).

Pode-se dizer, a grosso modo, que o sucesso do RECA está diretamente

ligado à visão econômica sustentável de seus associados, na consecução dos

objetivos individuais e coletivos. À medida que, através da agricultura familiar, mantêm

o sustento de suas famílias, toda a produção é comercializada com a cooperativa,

respeitados os parâmetros estabelecidos, tais como a recuperação de áreas

degradadas, a diminuição da emissão de Carbono, a preservação da biodiversidade,

a utilização de Sistemas Agroflorestais- SAFs.

Do ponto de vista legal, de acordo com a instrução Normativa MMA nº 5 de

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Sistemas de uso e ocupação do solo em que plantas lenhosas perenes são 
manejadas em associação com plantas herbáceas, arbustivas, arbóreas, 
culturas agrícolas, forrageiras em uma mesma unidade de manejo, de acordo 
com arranjo espacial e temporal, com alta diversidade de espécies e 
interações entre estes componentes.

A preservação ambiental é, há alguns anos, tema central para o

desenvolvimento econômico mundial. Muitas empresas dos EUA e de países da

Europa valorizam as relações comerciais com empresas que têm práticas

sustentáveis em seus processos produtivos.

O RECA possui o selo de certificação orgânica, que é concedido pelo IBD

(Instituto Biodinâmico). Atualmente, os produtos certificados são: A polpa de

cupuaçu, polpa de açaí, palmito de pupunha em conserva, óleo de andiroba, óleo de

castanha-do-brasil e manteiga de cupuaçu. Através desse reconhecimento, cria-se

mais possibilidade de expansão da marca e comercialização desses produtos mundo

afora, assim como facilita a criação de projetos com organizações de todo o mundo,

que direcionam suas parcerias para empresas desenvolvem produtos sustentáveis.

Artigo RECA (3)

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